Muito dos conflitos pessoais, principalmente das pessoas com idade acima dos 40 anos, tem origem na falta de espiritualidade em suas vidas. As pessoas que não creem na existência de um Ser Supremo ou na necessidade da espiritualidade, quando afetadas por ocorrências desagradáveis, por se encontrarem sem uma estrutura emocional compatível, atiram-se desesperadamente para a vitimização e/ou para a autodestruição.
Uma relação íntima com o Ser Supremo, que irradia luz e vida, clareando os caminhos e as ideias, faculta a pessoa uma integração com si mesma e com o Universo, auxiliando-a na compreensão de muitas das adversidades que a vida lhes impõe. Mais importante que adotar uma seita formal é a adoção de uma vida mais espiritualizada, uma realização interior mais lúcida, sem formalismos, que a faça emergir da rotina, encontrar o Ser Supremo, encontrar a si mesma e a ver o mundo com outros olhos. A inteligência espiritualizada é a que nos cura e nos torna um ser mais integro. Base de sustentação para enfrentarmos as adversidades da vida, ainda oferece meios para uma vida cheia de realizações. O encontro com a espiritualidade é uma saudável busca pela sabedoria transcendental, que ira nos acompanhar para sempre, por toda a eternidade.
O primeiro passo para espiritualizar-se é reconhecer a existência de um Ser Supremo no Universo, nosso criador e criador de todas as coisas. Tudo o que existe neste Universo cuja criação é por nós desconhecida, atribuímos a Ele a “causa primária”. Nada existe cuja “causa primária” não seja Ele. O Universo, que engloba o espaço sideral, as galáxias, as constelações, as estrelas, os planetas, a Terra, a natureza, o fluído cósmico, o ar, a água, a terra, o fogo, as plantas, os animais, as células, os vírus, as bactérias, os átomos, os elétrons, etc, tudo foi criado por Ele. E é pela obra que se reconhece o Criador. Se a obra é perfeita (e o Universo é perfeito!), perfeita também é a inteligência do seu Criador. Por isso, é a Inteligência Suprema do Universo. Nós, enquanto inteligência, ser pensante, ser eterno (de muito e muito tempo atrás), que já passamos por muitas formas de vida e por muitas vidas passadas, também somos criação Dele.
Desse Ser Supremo que é:
- Eterno, pois jamais acabará;
- Infinito, por estar em tudo sempre;
- Imutável, porque Ele e suas leis não mudam com o tempo;
- Imaterial, porque não tem uma forma definida, palpável, circunscrita;
- Único, porque se fosse mais de um, suas leis não seriam coesas;
- Todo Poderoso, porque todo criador é todo poderoso em relação a sua criação;
- Soberanamente Justo e Bom, porque quanto mais conhecemos as suas leis, mais ficamos convictos disto!
“Nada acontece no Universo, nem cai um fio de cabelo, sem o Seu consentimento.” Por isso é que dizemos que nada acontece por acaso, pois se algo foi permitido por Ele é porque foi o melhor que tinha que acontecer naquele momento e teve a sua razão de ser, o seu motivo de acontecer. Se Ele é justo, justa é Sua causa! Se não entendemos ainda, um dia entenderemos, compreenderemos e iremos assimilar. Na maioria das vezes é porque ainda não estamos preparados, pois só nos é dado entender e compreender, à medida que estivermos preparados.
O segundo passo para espiritualizar-se é o de conhecer a si mesmo. E para isso uma nova visão precisa ser acrescentada na sua forma de viver. No nosso dia a dia estamos sempre nos ocupando em atender as nossas necessidades vitais, de segurança, sociais e de auto realização; e deixamos de lado o nosso desenvolvimento interior, na busca de incorporarmos virtudes, princípios e valores morais mais elevados, estáveis e permanentes, que nos proporcionarão uma convivência mais harmônica e feliz, conosco, com as pessoas e com o Universo, pelo resto de nossas vidas e por onde estivermos. Estou falando de nos conhecermos melhor, conhecer melhor nossos defeitos, vícios, limitações e potencialidades, para podermos corrigi-los, saná-los, rompê-los e desenvolvê-los, a fim de nos aprimorarmos. É um projeto consciente de crescimento, em que nos propomos desenvolver o nosso potencial, para então melhorarmos a nossa atuação na busca das outras necessidades, diminuindo assim a incidência de conflitos e transtornos em nossas vidas.
Através da identificação da nossa realidade, das nossas aspirações legítimas e das nossas reações diante das ocorrências, nos observando, analisando, avaliando, devemos buscar a promoção das melhorias em tudo o que em nós, esteja em desarmonia com os nossos princípios e valores. Nós nos depararemos com diversos itens que desconhecemos; outros inimagináveis; outros que até negamos, mas que atuam dentro de nós de forma inconsciente. Algumas virtudes e potencialidades que desconhecemos hoje em nós, poderão vir à tona e passarão a fazer parte ativa do “nosso eu” a partir de então. Todos precisam ser descobertos e trabalhados a fim de tornarem parte integrante de nós, de forma consciente e harmônica.
O primeiro bom fruto a ser colhido dessa adesão é o aprender a ser. À medida que incorporamos as nossas mais autênticas formas de pensar, falar e agir; saímos da condição daqueles que procuram refletir as conveniências dos outros em si, para passarmos a refletir a nossa própria individualidade. Assim, tornamo-nos mais íntegros, mais autênticos, mais conformes com os nossos próprios pensamentos e sentimentos. Isso é muito bom, traz muitos benefícios, nos traz uma auto realização muito grande, por estarmos implementando melhorias em nós mesmos.
Mas, por traz disso tudo, tem um grande e inevitável desafio, que é o de ter que aprender a conviver com a solidão. Nem sempre as pessoas vão aceitar essas mudanças em nós, nos compreender ou compartilhar conosco esse processo. Os motivos são os mais variados. Precisamos compreender essa influência do coletivo em nós, principalmente no que diz respeito à “busca pelo ter”. Toda a nossa sociedade luta por ter coisas, ter posses, ter poder, ter pessoas e quando “procuramos ser” o “ter” passa a ser secundário para nós. Nada contra o “ter”; mas “ser” antes de “ter”, “ser” antes de “poder”; “ser” sem a preocupação de “parecer”, é muito melhor! E a sociedade não costuma ver isso com bons olhos. Algumas pessoas não se conformam com toda a preocupação e esforço que empregam em busca do “ter”, para suprir as suas carências e insatisfação com a vida, que jamais aceitarão que haja alguém, sem ter o que elas acham básico e fundamental, e que consiga levar uma vida mais equilibrada, mais serena e mais em paz, que a delas.
Quando buscamos primeiro “ser” antes de “poder”, estruturamos nossas relações em bases mais sólidas. Passamos a ter o poder pelo que “somos”. O poder passa a ser mais autêntico. Passamos a ser mais reconhecidos. Por outro lado, passamos a lidar melhor com as habilidades ainda não desenvolvidas, admitindo os medos e os limites, as possibilidades de falhas e de erros; sem escondê-los por trás de máscaras que fazem de conta, na tentativa de nos protegermos e de sermos aceitos. A conquista do “ser” nos liberta da tentativa de “parecer”, algo que não somos ou estamos. Fica mais fácil aceitarmo-nos como somos, com nossos limites e defeitos, por que sabemos que por estarem sob vigília, as nossas imperfeições e vícios não permanecerão para sempre conosco e nem estarão isentas dos nossos devidos cuidados. Do nosso lado, a necessidade de interagirmos com esse eu desconhecido, com fatores inconscientes, que somos nós, facilita-nos a convivermos melhor com os outros, uma vez que não nos espantaremos com as suas deficiências, por termos aprendido a conviver com as nossas.
O outro bom fruto é o de aprender a viver. À medida que identificamos uma nova e melhor forma de pensar, falar e agir no nosso mundo íntimo, o nosso discernimento nos leva a eleger uma conduta mais saudável para com a vida, compatível com a nova perspectiva encontrada. Viver reta e autenticamente passa a ser a nova meta. O desafio vai para além do “viver bem” no sentido de suprir necessidades, acumular recursos e buscar a auto realização; e passa a ser também do “bem viver”, conquista pessoal intransferível, que significa estar de bem com a vida e com tudo, sem muita influência externa. Ao aprendermos a deixar de pautar a nossa vida só nas conquistas externas e passarmos a desenvolver também o nosso potencial interno, passamos a primar pela conservação e intocabilidade da nossa “paz interior”, e como consequência, passamos a viver melhor com tudo. Os desafios passam a ser pautados em valores mais profundos, existenciais e duráveis.
São muitos os dramas existenciais de pessoas que dedicaram boa parte de suas vidas em busca somente de coisas materiais, chegando a ter alcançado o famigerado “sucesso” e, no entanto, se tornaram pessoas profundamente amarguradas, com um vazio interior intenso. Nada contra as conquistas, porém faltou a espiritualidade que ficou de lado e não foi desenvolvida.
Outro aspecto importante é a busca por diminuirmos a influência dos conceitos sociais (família, sociedade, trabalho, etc.) sobre o nosso ser, os nossos conceitos, o nosso viver e buscarmos olhar mais o mundo com os nossos próprios olhos, com nossa própria lente, para firmarmos o nosso caminho. Esse novo processo irá nos proporcionar uma atuação individual mais ativa, mais intensa e mais profunda, nas próprias estruturas sociais em que participamos. Muitos dos que trilharam esse caminho, com o intuito de aproveitarem o grande aprendizado da vida, não aceitaram jamais serem um espectador passivo e sim o mais fiel protagonista de suas vidas.